Há filmes que parecem dividir de maneira implacável críticos e público, como se fossem grupos com gostos completamente opostos. É esse o caso de Um Lugar Bem Longe Daqui, filme produzido pela Sony a partir do best-seller homônimo da escritora Delia Owens.
A história se desenvolve a partir do julgamento de Kya Clark (Daisy Edgar-Jones), acusada de ser responsável por um homicídio que ocorrera em circunstâncias misteriosas. Kya crescera sozinha após ser abandonada pela família em uma casa localizada no meio de um pântano. Devido à sua origem, foi estigmatizada pela cidade, o que contribui para desfavorecê-la durante o julgamento.
O filme é dirigido por Olivia Newman, que estreou muito bem na direção do longa Minha Primeira Luta (2018), mas parece deslizar na condução desse segundo, talvez devido ao roteiro que recebeu como base para seu trabalho. Como se trata de um (melo)drama de tribunal, a trama vai sendo contada aos poucos, por meio de flashbacks do pântano que se intercalam com cenas na corte. A ideia geral é bem interessante, mas alguns problemas recorrentes comprometem o resultado final para expectadores mais exigentes.
O cenário e o figurino, por exemplo, parecem um pouco artificiais, como se tivessem sido produzidos para uma peça escolar. Por isso, é possível perceber, às vezes, que estamos assistindo a atores interpretando personagens em sets de filmagem cuidadosamente produzidos para não ultrapassar o orçamento. Nem mesmo a casa no pântano, onde se passa a maior parte do filme, recebeu atenção adequada para se tornar um cenário totalmente realista e convincente.
Os personagens principais são planos, enquanto os secundários mal aparecem em tela. É difícil, portanto, criar uma conexão com qualquer outro além da protagonista. Mesmo o par romântico “principal” apresenta uma personalidade tão árida diante de Kya, que você acaba torcendo para que ela continue morando sozinha no pântano. Em relação ao julgamento, que poderia adicionar alguma complexidade aos personagens, nota-se um total desperdício do seu potencial. As acusações superficiais e os testemunhos grotescos parecem ter sido planejados para fazer rir, o que nos serve pelo menos como alívio cômico indevido.
O que de certa forma melhora a experiência final é a relação de Kya com o pântano, a verdadeira história de amor desse filme. As melhores cenas são aquelas que exploram a paixão da protagonista por esse local tão isolado e cheio de vida, no qual ela cresceu e criou raízes.
Assim, apesar de Um Lugar Bem Longe Daqui apresentar boas ideias, o desenvolvimento da trama é bem problemático e os aspectos técnicos não colaboram para um bom resultado. Para aqueles, contudo, que gostam de melodramas românticos, é possível que a experiência seja bastante agradável e todos os problemas sejam completamente mascarados por uma reviravolta nas cenas finais.