O Doutrinador (2018) | Crítica

Quem não reage, rasteja!

Quando falamos em cinema brasileiro, muitas vezes, nosso senso nos leva as comédias estilo besteirol que os brasileiros têm usados há tempos para atrair um público lucrativo para o cinema. Por outro lado, temos obras magníficas e lembradas internacionalmente como Cidade de Deus, Tropa de Elite e Central do Brasil (que rendeu a indicação de Melhor Atriz no Oscar para Fernanda Montenegro).

O que esses filmes brasileiros, aclamados lá fora têm em comum? Eles mostram uma realidade mais forte do Brasil, uma realidade que as comédias, muitas vezes desprezam e/ou debocham. E é justamente em um contexto político como o atual que chega aos cinemas essa semana o filme O Doutrinador, baseado nas HQs de mesmo nome de Luciano Cunha.

Quando vi o trailer pela primeira vez, achei que seria somente mais um filme brasileiro focado em violência e pancadaria. Mas O Doutrinador tem um modo diferente de apresentar a violência e há todo um contexto profundo por trás, não deixando que os atos violentos sejam simplesmente por puro desejo.

O Doutrinador se passa em uma cidade fictícia não especificada, podendo parecer o Rio de Janeiro, São Paulo ou Brasília. Além disso, trás um aspecto de Brasil futurista, com enormes luminárias e telões girantes em arranha-céus enormes.

O filme nos trás a história de Miguel (Kiko Pissolato), um agente da Divisão Armada Especializada, que tem como missão prender o governador do estado por desvio de dinheiro da saúde. Após a prisão, o governador nega todas as acusações. Em meio a tudo isso, Miguel tem a filha morta por uma bala perdida e ter o atendimento em um hospital público negado, passando a culpar o estado pela sua falta de recursos e problemas com corrupção.


Um esquema com o Supremo Tribunal Federal, concede um habeas corpus ao governador. Isso geral em Miguel revolta, e no meio de uma manifestação consegue uma máscara de gás e a usa para lutar contra policiais da tropa de choque, conseguindo chegar até o gabinete do governador e o matar brutalmente a socos.



A partir desse ato, Miguel assume a identidade de O Doutrinador, um justiceiro mascarado que busca ao mesmo tempo, se vingar pela morte da filha e acabar com um esquema de corrupção que atinge o país inteiro. O problema que surge em meio a tudo isso é conseguir alguém que lhe ajude hackeando e-mails e documentos, e nomeio de tudo isso, surge Nina (Tainá Medina), uma hacker especialista que vai ajudar Miguel em todos os processos.


O Doutrinador passa a matar todos os políticos envolvidos nessa rede de corrupção, dividindo opiniões em todo o país sobre os seus atos e podendo modificar os resultados das eleições presidenciais que estão se aproximando.

É bem interessante o quanto o cinema brasileiro pode ter evoluído com esse filme, trazendo uma perspectiva diferente da que trazia. Um grupo de vilões extremamente caricatos, um super-herói com direito a fantasia e tudo, espelhando o desejo de muitos brasileiros.

O filme traz muitas cenas de ação, com um estilo de luta bem parecido com os filmes de super-herói estado-unidense, com direito ao “salto de super-herói” (Pool, Dead, 2016). Além disso, o design visual lembra muitos filmes baseados em HQs e mangás como Scott Pilgrim Contra o Mundo, Kingsman e A Vigilante do Amanhã.


É claro que comparar O Doutrinador com filmes aclamados como esses não é exatamente o correto, mas é inegável que um filme nesse estilo nunca foi produzido no Brasil. Sem contar que a qualidade é inegável e uma das coisas que mais ouvi depois da sessão acabar foi que realmente foi algo surpreendente.

Outra coisa surpreendente é a atuação dos protagonistas. Kiko Pissolato nunca foi dos atores mais aclamados, não havia nenhum papel tão importante para ele até esse momento, somente com algumas passagens por novelas como Amor à Vida (vale ressaltar que a maioria dos seus personagens nem nome tinha), entretanto, ele entregou realmente o que o filme precisava, um personagem focado em sua missão, amoroso quando tinha que ser, sofre quando era necessário, sem contar as cenas de ação, que o ator demonstrou saber bem o que estava fazendo.


As qualidades técnicas também estão bem diferenciadas do que vinha sendo trazido no cinema brasileiro, com técnicas que mesclam realidade e computação gráfica, cenas de ação ensaiadas com estilos de luta que lembram até o Batman.

Realmente foi uma surpresa muito boa assistir esse filme, e ver como a realidade atual foi exposta, como um candidato a presidência consegue o que quer se tem o apoio do STF, STE, ministérios distribuídos de acordo com favores feitos, apoio da bancada evangélica e ruralista, deputados prometendo aprovar coisas só para agradar um grupo de fanáticos como a aprovação da cura gay e proibição do kit gay e a bancada evangélica zombando nos bastidores de seus apoiadores. Nada disso sou eu que estou dizendo, isso é o que está no filme, mas parece tanto com a realidade que chega a chocar.


No filme estreia hoje, 1 de outubro, em todo o país, assista até o final e corra para assistir antes que seja proibido pelo próximo governo por acusação de doutrinação.


17 comentários:

  1. Tinha visto falar desse filme mas foi pouco. Adorei essa ideia e lembra mesmo uns filmes aclamados, me lembrou de séries que já vi nesse estilo, a ideia de missão impossível e toda essa violência e mortes com um proposito de justiça. O personagem ter a vontade de sair matando todo mundo envolvido em corrupção é bem louco. Mas achei interessante pelos nossos tempos e a fantasia no meio de tudo isso. Seria uma coisa extraordinária demais? O que o povo acharia? É extremo e pode render muita história. Diferente ele é mesmo. Nunca iria pensar num filme brasileiro assim. Gostei disso.

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  2. Oi Kevyn!
    Primeira vez que vejo esse filme...
    Por ser um filme brasileiro, tenho um pé atrás, mas te confesso que me deixou curiosa...
    Dica anotada!
    Bjs!

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    1. Esse era o receio de todos que estavam na sessão, mas valeu super a pena.

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  3. Eu faço parte do time que torce o nariz para filme nacional.
    Sei que temos sim, muita coisa boa, mas em contrapartida, temos também uns fiascos que só por Deus!rs
    Por isso, quando estava ontem lendo sobre este lançamento, fiquei meio pé atrás. Mas pelo que li acima, o filme apresenta um enredo inovador e bem propício para os dias atuais. Esta época pós eleição ainda vai dar muito pano pra manga e quem sabe, muito trabalho para o Doutrinador!
    Com certeza, assim que for possível, verei sim!
    Beijo

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  4. Oi, Kevyn
    Não sabia desse filme, mas gostei muito em ver os cineastas brasileiros se arriscando com outros temas sem ser comédia.
    Quero assistir O Doutrinador parece bem intrigante.
    Beijos

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  5. Já tinha visto o trailer e não tinha botado muita fé nele (não sou muito fã de filmes nacionais), mas mesmo assim fiquei curiosa e pretendo assisti-lo.
    Com certeza irei assistir ao filme com a mente aberta e sem julgamentos, mas confesso que ler a resenha aumentou minha expectativa kkkk
    (Confesso que eu adoraria ter um doutrinador pra acabar com esses corruptos que acabam com o país)

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  6. Kevyn, adorei sua crítica!
    Gente, que filme, hein!
    Super combina com o cenário atual do Brasil!
    Quero assistir já!
    Não tinha ficado sabendo do lançamento, acho que não chegou nos cinemas próximos de casa, uma pena, pois parece ser de muita qualidade e ousadia. Sem aquele besteirol idiota que já estamos acostumados a ter nos filmes nacionais.
    Anotado aqui.
    bjs

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  7. Oi, Kevyn!
    Gostei muito da critica do O Doutrinador e fiquei bem curiosa para assistir esse filme, principalmente por que esse filme é a cara do Brasil atual. Amei a dica!!
    Bjos

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  8. Sempre gostei do cinema brasileiro; é uma pena não ter tanta visibilidade e verba para ajudar no crescimento.
    Não sabia desse filme, é um estilo diferente do que vemos por aí.
    Não faz o meu gosto, mas achei muito interessante essa abordagem política.
    Se tiver a chance, até assistiria.

    Beijos

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  9. Confesso que não sou muito fã do cinema brasileiro, mas tem filmes que não tem como não assisti. Gostei do trailer, realmente parece ser um filme de òtima qualidade, eapero que seja um sucesso.

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  10. Olá Kevyn,
    Bem, não dá para negar que os filmes brasileiros atuais andam sendo decepcionantes, mesmo os de comédia, que sempre gostei, tem me deixado com o pé atrás, então não dá para culpar os espectadores que tendem a não ir assistir.
    Só pleo trailer dá para perceber o belo trabalho feito, confesso que as atuações não me prendem tanto, mas gostei do enredo apresentado, bem atual, e, em vários pontos, realista.
    Eu arrisco até a dizer que deveriam investir mais nesse estilo.
    Beijos

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  11. Kevyn!
    O cinema brasiçeiro tem melhorado muito e que bom.
    Achei o filme bem pertinente para o momento que o nosso país está passando. Muita gente quer fazer justiça com as próprias mãos.
    Achei esse lance de contratar uma hacker para ir atrás de quem deve exterminar, bem parecido com MILLENIUM...
    Espero poder assistir.
    Desejo uma ótima semana!
    “Para cada minuto que você se aborrece você perde sessenta segundos de felicidade.” (Ralph Waldo Emerson)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA NOVEMBRO - 5 GANHADORES – BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  12. Oi Kevyn.
    Esse filme tem um enredo bem interessante e atual com toda questão política e de corrupção.
    Pelo trailer e pela sua resenha dá para notar a qualidade dos efeitos especiais e da fotografia. Realmente nunca tinha vista um filme brasileiro dessa qualidade.
    Fiquei com bastante vontade de conferir o filme.
    Adorei a dica.
    Beijos

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  13. Oi! O cinema nacional não é muito escolhido por mim quando quero assistir algo, ou quando decido é justamente pelos de comédia, que não são ruins. Mas eu gostei de Tropa de Elite e Cidade de Deus, principalmente o último citado, ele trás uma realidade que é vivida por boa parte daqueles que moram nas favelas, eu sei bem como tudo é são semelhante com a vida real. Esse parece ser interessante, parece que foi escolhido a dedo para a situação que estamos vivendo na política. Sei bem a vontade de fazer justiça, acho que foi um sentimento que a nação dividiu nos últimos tempos.

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  14. Oi Kevyn,
    Na Comic Con que teve em Recife ano passado, lembro que em uns painéis chamaram o Luciano Cunha e ele falando um pouco da história por trás e falando que iria lançar o filme. Não sabia que tinha lançado, quero muito assistir, porque além da ajudar o cinema brasileiro, a história parece ser muito boa.

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  15. Olá! O filme parece ser muito bom, bem diferente do que estamos acostumados a esperar de filmes nacionais, e uma maneira interessante de refletir sobre a atual situação do nosso país.

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  16. O roteiro do filme e muitas vezes me lembrou de uma série que eu assisti algum tempo atrás mas eu gosto de ver o mercado cinematográfico do país avançando Eu concordo com você muito dos filmes que nós produzimos são aquelas comédias besteirol tipo Até Que a Sorte Nos Separe ou Minha Mãe é uma Peça

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Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

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