Precisamos falar sobre: Boy Erased


Pela primeira vez na história desse país precisamos falar sobre um filme que não vimos e que não vai passar no Brasil, táoquei?! Por isso, PRECISAMOS FALAR SOBRE BOY ERASED, O FILME QUE, SUPOSTAMENTE, FOI CENSURADO PELO GOVERNO BRASILEIRO.

Como já dizia Rufo Scrimgeour em Harry Potter e o Enigma do Príncipe: “São tempos sombrios, não há como negar. Nosso mundo jamais enfrentou ameaça maior que a que enfrenta hoje”, mas faço das palavras dele as minhas: “Nós, sempre os teus cervos, continuaremos a defender sua liberdade e a repelir as forças do mal”.

Vamos fazer um apanhado de fatos para poder discutir sobre o tema.

Ano passado foi anunciado a produção de Boy Erased – Um Verdade Anulada, um filme que conta a história real de Garrard Conley, que é interpretado por Lucas Hedges e conta ainda com a participação de Troye Sivan, Nicole Kidman e Russell Crowe. O filme, inclusive, rendeu duas indicações ao Globo de Ouro, Melhor Canção, por Revelation de Troye Sivan com Jónsi e Melhor Ator para Lucas Hedges.


Como enredo do filme temos um jovem, filho de um pastor da Igreja Batista de uma pequena cidade do Arkansas e que é gay. Em meio a isso, o jovem é submetido a terapia de conversão sexual, ou como é conhecido no Brasil, “cura gay”, e é justamente aí que o filme foca, nos procedimentos usados durante esse processo.



A estreia do filme estava prevista entre janeiro e fevereiro desse ano aqui no Brasil, pois ele foi lançado ano passado no mundo todo. Entretanto, no dia 31 de janeiro um internauta perguntou no Twitter sobre o lançamento e obteve a seguinte resposta: “Oi, Felipe. Infelizmente esse filme não será lançado pela Universal Pictures aqui no Brasil

A confusão não acaba por aqui. O próprio Garrard Conley publicou em seu Twitter particular acusando o governo brasileiro de banir o filme, deixando a entender que foi por questões homofóbicas. Infelizmente, ele apagou o twitte algum tempo depois. Entretanto, o ator Kevin McHale (Glee) parece não ter deixado o assunto de lado e publicou em seu Instagram o seguinte:

“Banir um filme sobre terapia de conversão é perigoso! Bolsonaro é uma ameaça às vidas LGBTQ+. Eu te amo, Brasil, e vou lutar com vocês”
A Universal Pictures do Brasil, entretanto, informou que não lançará Boy Erased “única e exclusivamente por questão baseada no custo de campanha de lançamento versus estimativa de bilheteria nos cinemas”. Essa justificativa é até aceitável, tendo em vista que o filme foi péssimo nas bilheterias no Estados Unidos, que rendeu em torno de U$8 milhões, o que não paga nem o cache de alguma das estrelas.

O único problema é que essa teoria vai por água a baixo quando vemos alguns clássicos do cinema que tiveram uma péssima bilheteria, mas uma ótima recepção. Essa lista inclui filmes aclamados até hoje, como O Mágico de Oz (1939), Clube da Luta (1999) e A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971), esse último, inclusive, não conseguiu chegar nem a um sexto do custo, sendo um total fracasso de bilheteria.

Baseado nisso, Mathew Shurka, ativista dos direitos LGBTQ+, fundador da ONG Born Perfect e que participou como consultor do filme fez as seguintes postagens:



Enquanto tudo isso acontecei, o excelentíssimo presidente do Brasil que governa através do Twitter, já que os jornalistas são um bando de VA-GA-BUN-DOS, resolveu se pronunciar de modo que seu discurso fosse compatível com seus seguidos de 10 anos:


Claro que Shurka não deixaria isso passar a limpo e resolveu responder:


Com tudo isso que aconteceu percebemos onde nosso país foi parar. Pode até ser que tenha sido uma questão comercial, mas sem dúvidas outros motivos levaram ao cancelamento. Suponho que entre os motivos estão: a recepção negativa nas bilheterias, um governo que desde o inicio se mostra racista, machista e homofóbico e que a cada dia que passa mostra mais incapacidade de governar, e a população brasileira que se preocupa mais com dois homens se beijando do que com a família que passa fome na rua.

Não tem como não falar do preconceito escrachado no Brasil atualmente e não lembrar do episódio em que babacas (é a única explicação que tenho para isso) vaiaram Bohemia Rapsody durante uma cena de beijo entre Freddy Mercury e outro homem. Como assim?! Queriam que mudassem a sexualidade de uma lenda do rock apenas para evitar afetar sua masculinidade frágil?



Vale lembrar que o Brasil é o país que mais mata LGBTQ+ no MUNDO. Um filme como esse, mesmo que não tenha um grande alcance pode ajudar muitas pessoas que sofrem diariamente diante de tanto preconceito. Além disso, o tema "cura gay" vem amedrontando novamente o país. Para quem pesquisa sobre e conhece mais ou menos como funciona os procedimentos é algo extremamente perturbador e que casa danos psicológicos naqueles que passam que em alguns casos chega a ser irreversível.

Há casos de conversão de sexualidade em que os indivíduos preferem se afirmar como heterossexuais não por terem realmente se tornado, mas apenas para que os procedimentos de tortura acabassem. Algumas pessoas que passaram por isso contam que as torturas vão desde não poder tocar em outros do mesmo sexo, noites sem dormir, sem comer e sem beber, vivendo enclausurados em cubículos minúsculos, em alguns casos sendo obrigados a ver pornografia 24h.

Será que nós somos mesmo civilizados? Será mesmo que o povo que obriga uma pessoa a passar por isso apenas pelo bel prazer de uma maioria pode se dizer pessoa de bem?

Por isso digo, SIM, Boy Eresed pode ser um filme necessário em um momento necessário que não vai acontecer.

POR DANDARA! POR MARIELE! POR JEAN!

OBS.: A indústria do livro também sofre com isso, a editora Intrínseca havia lançado uma capa oficial do livro baseada no pôster do filme e chegou a publicar agora em janeiro como forma de promover o filme. Filme que não vai acontecer.

10 comentários:

  1. Vi muita gente falando que nada a ver isso do governo ter botado pilha e o caramba. Até acredito. Mas não é questão de ele ter banido ou nao. É a segunda vez esse ano que um filme com um tema importante não passa direito por aqui. Isso não é normal. Tem alguma coisa errada. E olha, nem tinha visto tudo isso dos envolvidos em rede social. Agora deu pra ver que o assunto é maior do que pensei. Mas é uma vergonha esse descaso viu. Mesmo que nao fizesse esse sucesso todo poderiam ao menos lançar em algumas seções por aí, ver como iria lucrar. Não tem como entender um trem desses...

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  2. Sim, são tempos difíceis...
    É triste ver essa censura velada, ver a arte sendo calada.
    Mas me orgulho de pessoas que resistem e falam o que acreditam como fez o ator, me orgulho de posts como o seu.

    Beijos

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  3. Nossa! Eu fiquei tão decepcionado por não estrear esse filme no nosso país. Ainda não li o livro, mas pela temática da história me parece incrível. Sobre o cancelamento do filme: creio que ele foi cancelado justamente por conta do baixo lucro em mercado editorial, mas ÓBVIO que influenciado por tanto conservadorismo que estamos vivendo atualmente, é visível uma referência nítida. Muito triste!

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  4. Olá! É lamentável termos que presenciar esse tipo de coisa em pleno século XXI, e justamente por estarmos nesse total clima de incertezas em nosso país, não dá para saber se os motivos elencados pela Universal são totalmente verdadeiros ou não, o fato é que, para variar, quem sairá perdendo somos nós, que não poderemos conferir, pelo menos cinemas, esse filme.

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  5. Oi, tudo bem?
    Ao ler sua postagem só posso sentir tristeza e desesperança. A que situação chegamos de ter um filme censurado por retratar questões tão importantes, apenas por puro preconceito. Acho que a Universal deveria ter lutado pelo direito de lançar o filme aqui sim, mas como já foi dito, a questão envolve muitos outros fatores além do poder deles. O jeito é a gente se contentar com o livro, mas continuar lutando pra coisas assim não continuarem acontecendo.

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  6. Oi Kevyn,
    Chega a arrepiar assistir ao trailer, é muito triste saber que isso se trata de casos reais, e que ainda há pessoas que acham essa tal cura real!
    Sobre o filme não chegar por aqui, fica claro que o Brasil é completamente homofóbico, as pessoas fazem piadas, são preconceituosas, matam, por algo que nem tem a ver com a vida delas, acredito ser difícil evoluirmos nesse ponto sendo que o cara que governa (palavra bem sem sentido nesse caso) o país é tudo o que citei, e pior, as pessoas se identificam com ele.
    Eu pretendo dar um jeito de assistir ao filme, imagino que logo ele chegue aos sites, até mesmo com legenda, e mais, espero que muitas pessoas por aqui possam ver, e quem sabe, abrir a mente.
    Beijos

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  7. Oi, Kevyn!!
    Realmente vivemos tempos sombrios é o que mais temo é o futuro do Brasil, pois hoje foi um filme que fala sobre a "a cura gay" e amanhã vai ser o quê? Infelizmente não vai ter filme nos cinemas mas tenho certeza que o livro também é bom e vou procurar para ler e quem sabe também não consiga assistir o filme.
    Bjos

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  8. Puxa, pena que não vou assisti a esse filme. Infelizmente a homofobia esta ai, até nas pessoas que dizem que não são, mas na primeira oportunidade a máscara cai. Estou vendo isso de perto.

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  9. Essa história é completamente absurda. Não me lembro de outro episódio parecido em que um filme teve estreia cancelada aqui por conta de uma má bilheteria nos Estados Unidos.
    A frase que mais digo ultimamente "são tempos estranhos".

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  10. Kevyn, que tristeza está morar no Brasil, vou te dizer, tá de dar medo.
    Essa censura é completamente absurda.
    Quero muito ler e assistir Boy erased, vou ver se assisto no original mesmo, mas e pra quem na dá, como que fica?
    É um tema importantíssimo e que precisa sim ser discutido mais e mais.
    A homofobia está demais, não tá dando pra acreditar no terror que está acontecendo.
    bjs

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Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

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