CRÍTICA | Babilônia (2023)

 


Babilônia, de Damien Chazelle, é talvez o filme mais polêmico e divergente de 2022, daquele tipo que suscita discussões entre amigos e recebe avaliações muito discrepantes da crítica especializada. Independentemente dos seus problemas, contudo, o longa é bastante interessante por explorar como a decadência, a depravação e os excessos escandalosos (como define a sinopse oficial) habitam os bastidores de produções artísticas que encantam milhões de pessoas pelo mundo.


Situado na Hollywood dos anos 1920, os “anos loucos”, a narrativa acompanha uma parte da história do cinema, sobretudo durante a transição do cinema mudo para os filmes sonorizados. O foco narrativo vai alternando entre diversos personagens, mas o protagonista pode ser considerado o mexicano Manny Torres (Diego Calva) que serve como fio condutor da trama. A partir dele, acompanhamos, por exemplo, a história de Nellie LaRoy (Margot Robbie), inspirada na vida da atriz Clara Bow, musa do cinema mudo e primeira “it girl”. Vemos também a trajetória do ator Jack Conrad (Brad Pitt), personagem inspirado em galãs do cinema mudo, como John Gilbert e Douglas Fairbanks. Além desses três, há algumas subtramas que vão se desenvolvendo e compondo essa narrativa complexa e confusa.

Damien Chazelle é o grande nome por trás de Babilônia, pois escreve e dirige o longa. Apesar de ainda ter uma carreira curta como cineasta, ele já conquistou um espaço entre as lendas do cinema pelos filmes Whiplash (2014), La La Land (2016) e O primeiro homem (2018). Apenas com La La Land, por exemplo, Chazelle se tornou o diretor mais jovem a receber o Oscar de melhor direção. Aparentemente toda essa atenção estimulou o autor a dar um passo bem mais ousado com seu novo filme, que alguns críticos estão qualificando até como “petulante”. Acredito particularmente que isso vai depender da experiência de cada expectador.




O título, contudo, é muito adequado à obra. Apesar de significar “Porta de Deus” em seu idioma original, o termo adquiriu um sentido muito pejorativo devido à tradição judaico-cristã. De acordo com o dicionário Priberam, Babilônia pode significar: 1. cidade grande e confusa; 2. falta de ordem ou organização (algazarra, babel, confusão); 3. devassidão. E é exatamente isso que encontramos nesse épico de três horas de duração: orgia, perversão, drogas, degradação, exploração e toda sorte de extravagâncias imaginadas pelo diretor.

Chazelle inclusive não faz nenhuma questão de relativizar ou contemporizar os defeitos da Hollywood dos anos 20, de modo que (intencionalmente ou não) seu roteiro parece espelhar o paradoxal e o pitoresco daquela sociedade, gerando um tipo de drama histórico-satírico mordaz e caótico. Em alguns momentos ele joga monólogos tão diretos na tela, que parece parar a história para conversar com a plateia por meio de seus personagens. Além disso, o roteiro traz muitas referências a filmes e fatos da época que nem todos os públicos conseguirão recuperar, o que pode dificultar a imersão e a construção de um vínculo com a narrativa e seus personagens – ter assistido Cantando na Chuva (1952) pode ajudar.

Por todos esses motivos, Babilônia é um filme realmente divisivo, que dificilmente agradará aos frequentadores mais casuais ou mesmo conservadores (em relação à forma cinematográfica). Apesar disso, o longa possui suas qualidades enquanto produção artística e pode ainda ser beneficiado pela passagem do tempo.

Por Samuel Holanda

Assista ao Trailer:






Nenhum comentário:

Postar um comentário

INDICAÇÃO DE FILME

INDICAÇÃO DE FILME
Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

Colaboradores

Caixa de Busca

Facebook

Instagram

Destaque

CRÍTICA| A Cor Púrpura (2024)

  A Cor Púrpura , musical que acaba de estrear no Brasil,  é uma adaptação  de uma  adaptação  de uma adaptação .  Estranho, mas é isso mesm...


Arquivos

Posts Populares

Receba as novidades!

Tecnologia do Blogger.

Parceiros