CRÍTICA| OS BANSHEES DE INISHERIN (2023)

 


Com nome estranho e nove indicações ao Oscar 2023, o quarto longa do premiado dramaturgo britânico Martin McDonagh finalmente chega ao Brasil, já tendo feito o circuito dos grandes festivais de cinema e conquistado uma centena de vitórias em premiações internacionais. Contudo, apesar dos incontestáveis méritos obtidos entre os críticos, o longa de humor negro distribuído pela Searchlight Pictures pode infelizmente não alcançar o mesmo sucesso com o público em geral aqui do Brasil.


Subitamente, Colm Doherty (Brendan Gleeson) decide que nunca mais vai conversar com Pádraic Súilleabháin (Colin Farrell), seu amigo e companheiro de bar. Pádraic, por sua vez, não consegue lidar bem com essa inusitada decisão de um amigo tão antigo, o que acaba perturbando a vida da pequena população de Inisherin, uma ilha irlandesa fictícia. À primeira vista, a trama parece simples e banal, mas logo percebemos que as ações dos personagens possuem graves repercussões.

O roteiro é original e foi escrito pelo próprio diretor, inspirado em muitos elementos do teatro do absurdo. McDonagh inclusive é conhecido pelos elogiados Na Mira do Chefe (2008) e Três Anúncios para um Crime (2017), que também exploram o uso do humor sarcástico a partir de uma base dramática. Essa mistura não é comum na maioria dos filmes, mas faz parte do estilo desse diretor.




O curioso título faz referência a uma entidade sobrenatural de origem céltica. Os banshees (ou melhor, as banshees) são um tipo de espírito feminino que, no folclore irlandês, prenunciavam ou lamentavam a morte. Essa alegoria assume um papel central na narrativa de McDonagh, que a utiliza para desenvolver sua trama. Há até mesmo uma personagem que personifica a figura da banshee por meio do prenúncio de uma tragédia.

Somos então fisgados por uma tensão constante causada pela desavença entre os antigos amigos, que vai aumentando à medida que Pádraic insiste em tentar entender as atitudes de Colm. A partir disso, o filme explora temas universais como amizade, solidão, envelhecimento, relações familiares, entre outros, em meio a um vilarejo praticamente isolado do mundo. Como resultado, recebemos uma história profundamente humana e instigante, ainda que pitoresca.



A mistura de humor e drama, portanto, funciona, mas o diretor não deve levar o mérito sozinho. As atuações são excepcionais, com destaque para a dupla protagonista Colin Farrell e Brendan Gleeson. Além deles, Barry Keoghan e Kerry Condon também possuem papeis relevantes no filme e mantém o nível de comprometimento com seus personagens. Os quatro receberam inclusive indicações ao Oscar 2023 nas categorias de atuação, um reconhecimento do impressionante trabalho do elenco.

Um dos principais problemas que o filme deve enfrentar no Brasil está relacionado ao seu estranho título, que pode não atrair tanto a atenção em meio aos muitos lançamentos nesse período do ano. Para completar, o desconhecimento sobre a cultura irlandesa, como o humor negro e a mística relacionada aos banshees, pode dificultar a conexão com a história. Apesar disso, Os Banshees de Inisherin deve se consagrar como um dos melhores filmes de 2022 e merece, portanto, um pouco do seu tempo e atenção.


Por Samuel Holanda



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Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

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