CRÍTICA | BARBIE (2023)

 


Com o lançamento de Barbie, Greta Gerwig consolida sua presença entre os grandes cineastas de Hollywood. A atriz, roteirista e diretora norte-americana, que começou sua carreia no cinema independente, demonstra que domina a linguagem cinematográfica ao entregar um filme que supera os desafios de retratar a famosa boneca da Mattel sem parecer um grande comercial para crianças. É possível afirmar, sem sombra de dúvidas, que sua participação no projeto foi decisiva para uma abordagem surpreendentemente crítica e divertida desse universo.


A história inicia mostrando como é a vida na Barbielândia, um lugar perfeito em que várias versões da boneca vivem da maneira mais idealizada possível, sem as preocupações e os problemas do mundo real. Um dia, contudo, a Barbie “principal” (Margot Robbie) começa a ter alguns problemas estranhos: ela se pergunta sobre a morte, acorda de mau humor e percebe que nada está dando certo, especialmente quando perde a capacidade de andar naturalmente na ponta dos pés. Barbie descobre, então, que precisa ir ao mundo real encontrar sua dona para resolver esse problema, uma espécie de crise existencial.

Greta Gerwig e Noah Baumbach assinam o roteiro, que utiliza muito humor e sagacidade para contar uma história divertida que não se eximi de fazer questionamentos, tanto sobre o universo Barbie quanto sobre diversos outros problemas sociais contemporâneos. As principais questões levantadas pelo roteiro, porém, envolvem o papel da mulher em uma sociedade patriarcal capitalista, visto que a boneca carrega um valor simbólico polêmico e ambíguo: ao passo que contribuiu para a construção de um imaginário social que incluiu as mulheres em profissões e carreiras “fora do lar”, também reforçou muitos estereótipos e padrões de beleza inalcançáveis para as meninas.

Em relação ao elenco, Gerwig consegue extrair atuações que combinam bastante com o tom satírico do longa: caricatas de maneira geral, mas dramáticas quando necessário. Margot Robbie, por exemplo, entrega uma de suas melhores atuações e convence como a Barbie estereotipada em crise existencial. Ryan Gosling, no papel de Ken, consegue alternar com sucesso entre a malícia e a vulnerabilidade, características do seu personagem. Destacam-se ainda as atuações de Simu Liu como Ken (uma outra versão), Michael Cera como Allan (“amigo” do Ken) e America Ferrera como Glória (uma funcionária da Mattel que se envolve no drama de Barbie).




Além do texto afiadíssimo e do ótimo elenco, Barbie também é, do ponto de vista técnico, muito bem executado. O figurino chama a atenção e é utilizado como elemento narrativo em diversos momentos, bem como os objetos plastificados do cenário. A trilha sonora é muito boa e as cenas musicais ocorrem naturalmente – não parecem forçadas como em alguns musicais. É possível perceber, dessa forma, todo o cuidado da produção com os detalhes técnicos, o que reforça a aposta no sucesso da obra.

O filme, contudo, não é perfeito. Alguns personagens parecem deslocados em dado momento, o que nos faz pensar se eles são realmente necessários. Nada que estrague a experiência ou prejudique a obra de maneira geral. Na verdade, o ótimo roteiro, as atuações, a trilha sonora e o humor satírico nos divertem bastante e compensam com folga os eventuais defeitos do longa. Barbie, portanto, é uma grata surpresa dessa temporada e merece ser apreciado no cinema com toda a família. 


Por Samuel Holanda





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Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

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