CRÍTICA| OPPENHEIMER (2023)

 

Oppenheimer, um dos lançamentos mais aguardados de 2023 (junto de Barbie), chega finalmente aos cinemas e vai enfrentar uma disputa acirrada pela bilheteria de julho. Muitas comparações estão sendo feitas entre os dois longas devido à coincidência na data de estreia, mas é possível afirmar desde já que o filme de Nolan parte em desvantagem devido sobretudo à abordagem escolhida pelo diretor e à classificação indicativa recebida. Isso não significa, entretanto, que o Oppenheimer será um fracasso nos cinemas, visto que a qualidade da história pode favorecê-lo ao longo das próximas semanas. 


A trama do filme é bastante complexa, mas se concentra basicamente na história do físico norte-americano J. Robert Oppenheimer, responsável pelo projeto que desenvolveu a primeira bomba atômica, durante a Segunda Guerra Mundial. No enredo, acompanhamos pelo menos três linhas temporais, que se alternam ao longo da obra: em 1954, Oppenheimer está sendo submetido a audiências no FBI para renovar suas credenciais de segurança e, por esse motivo, tem seu passado revirado; em 1959, Lewis Strauss, empresário e político americano que comandava a Comissão de Energia Atômica, passa por uma espécie da sabatina para assumir um cargo no governo de Eisenhower – as ligações entre Strauss e Oppenheimer são fundamentais para entender a história; finalmente, a terceira linha temporal narra boa parte da vida Oppenheimer, desde que ele vai à Europa estudar mecânica quântica, até o período em que o físico é recrutado para dirigir o Laboratório de Los Alamos, onde a bomba nuclear foi criada e testada. 



O longa, portanto, é uma espécie de drama de tribunal (sem julgamento) que se entrelaça a um estudo de personagem a partir da sua biografia. Por esse motivo, aqueles que esperam encontrar um novo Dunkirk provavelmente irão se decepcionar. Oppenheimer é um filme denso, complexo, com diálogos que abordam desde conceitos da física quântica a problemas de geopolítica do século XX. Tudo isso enquanto analisa a dimensão moral desse personagem tão ambíguo e polêmico que foi Robert Oppenheimer. Esse é sem dúvidas o filme mais pessoal e político de Nolan. O diretor claramente se posiciona e não hesita em tecer críticas ao seu país, enquanto destrincha os bastidores da política norte-americana por meio da vida de Oppenheimer.

A escolha de Cillian Murphy, inclusive, foi perfeita para o papel, pois o ator consegue expressar apenas com o olhar tanto a grandeza como culpa que seu personagem carrega. Além dele, há muitos nomes que se destacam no longa, já que o elenco é bastante estrelado: Robert Downey Jr. faz o empresário Lewis Strauss, Emily Blunt interpreta Kitty (esposa de Oppenheimer), Matt Damon faz o coronel Groves, Florence Pugh aparece como Jean Tatlock (amante do protagonista) e Gary Oldman faz uma pequena participação como o presidente Truman. É de se lamentar, contudo, que tanto a personagem de Emily Blunt como a de Florence Pugh recebem menos atenção do que merecem, considerando a relevância que tiveram na vida de Oppenheimer. 

Na verdade, em muitos momentos, a impressão é que Nolan acelera a edição para conseguir dar conta da narrativa que deseja apresentar sem extrapolar as três horas de duração. Ainda assim, o filme é tecnicamente excepcional e deve ser lembrado na temporada do Oscar 2024, sobretudo no trabalho com sua trilha sonora e fotografia. Por outro lado, sabe-se de antemão que o longa não irá liderar bilheterias (espera-se pelo menos que ele se pague, claro), visto que é muito difícil ser competitivo na indústria do entretenimento com um drama histórico complexo que possui classificação indicativa de 18 anos e 180 minutos de duração. 

Por Samuel Holanda


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Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

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