CRÍTICA | CANGAÇO NOVO (2023)

 


Lançamento original do Amazon Prime Video, Cangaço Novo é uma produção nacional realizada pela O2 Filmes, produtora responsável pelo clássico Cidade de Deus. Ambientada no sertão nordestino, a série apresenta uma trama repleta de ação, tragédia e misticismo na cidade fictícia de Cratará, localizada no interior do Ceará.

A história inicia com a ida de Ubaldo Vaqueiro (Allan Souza Lima) ao Ceará em busca de uma suposta herança que o ajude a pagar o tratamento de saúde do pai adotivo. Chegando a sua cidade natal, Ubaldo conhece sua família de origem e descobre que seu pai biológico fora uma espécie de cangaceiro bastante temido na cidade. Ubaldo também conhece suas duas irmãs de sangue, Dilvânia (Thainá Duarte), que cuida das terras da família, e Dinorah (Alice Carvalho), que atua em uma gangue de assaltantes de banco. Não vendo outra saída, ele decide usar seus conhecimentos como ex-bancário para obter dinheiro fazendo parte dos assaltos a bancos com sua irmã Dinorah.

Criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, que assinam o roteiro junto de Fernando Garrido e Erez Milgrom, a trama parece inspirada em histórias como a de Valdetário Carneiro, mecânico do Rio Grande do Norte apontado como precursor do “novo cangaço” e responsável por dezenas de assaltos a bancos entre o final dos anos 90 e o começo dos anos 2000. A direção ficou a cargo da dupla Aly Muritiba e Fábio Mendonça, que trabalha tanto a ação, como o drama de maneira muito eficiente. Há uma combinação bastante orgânica entre drama, tragédia, violência, romance, religiosidade, misticismo, comentário político, entre muitos outros temas relevantes para os tempos atuais. O principal argumento, porém, é a ideia de retratar o cangaço enquanto modo de vida, o que é reivindicado inclusive no título da série.



Apesar da temática desafiadora, os produtores conseguem equilibrar bem a forma como representam os personagens da trama. Considerando que o cangaço é um fenômeno social ambíguo que mistura práticas criminosas, sincretismo religioso e atitudes de resistência às formas instituídas de poder no Nordeste (como os coronéis), há sempre o risco de cair em um discurso romântico ou moralizador. Não é o que acontece nessa série, que retrata as várias dimensões dos valores morais de seus personagens, mesmo cometendo deslizes pontuais ao tentar justificar demais as ações dos “mocinhos” à medida que condena as dos “vilões”.

Entre os excelentes atores que participam da série, é indispensável destacar aqui o trabalho de Allan Souza Lima como Ubaldo e Alice Carvalho como Dinorah. Seus personagens são responsáveis pelos principais conflitos da narrativa e parecem ser os mais imprevisíveis. Os dois atores representam de maneira muito realista e visceral, construindo personagens que hipnotizam sempre que aparecem em tela, mesmo quando não falam uma palavra sequer.

De modo geral, portanto, Cangaço Novo é uma ótima produção nacional, ainda que não seja perfeita. A temática abordada é evidentemente bastante complexa, mas o cangaço faz parte do imaginário social do sertanejo e tem grandes influências na identidade local, de maneira que sua presença nas produções atuais é fundamental para enriquecer o repertório audiovisual brasileiro.



Por Samuel Holanda




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Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

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