CRÍTICA| A Cor Púrpura (2024)

 


A Cor Púrpura, musical que acaba de estrear no Brasil, é uma adaptação de uma adaptação de uma adaptaçãoEstranho, mas é isso mesmo. O filme adapta o musical da Broadway para o cinema, que por sua vez se inspirou no filme dirigido por Steven Spielberg em 1985, o qual adaptou para o cinema o célebre romance escrito por Alice Walker em 1982Apesar da qualidade técnica, porém, o novo filme está muito longe de fazer jus ao romance original.


O enredo é basicamente o mesmo do livro e do musical que serviu como base para a história. Celie (Fantasia Barrino)é uma mulher negra que vive em uma comunidade rural americana no início do século XX, contexto de muitas práticas discriminatórias. Abusada desde a infância pelo padrasto, do qual gerou dois filhos, é dada em casamento ao homem que irá continuar maltratando-a enquanto explora seus serviços domésticos e a afasta do convívio com sua irmã, Nettie. A exploração é tanta, que ela precisa cuidar da amante do marido quando esta fica doente e se hospeda na casa deles. Acompanhamos então o desenrolar dessa história dramáticaque aborda temas delicados como violência doméstica, assédio sexual, abuso, racismo, machismo, entre outros




longa é dirigido pelo ganense Blitz Bazawule, que conta com o apoio de nomes de peso na produção, como Spielberg, Oprah e a própria Alice Walker. Apesar de todo suporte, contudo, não parece que o diretor consegue fazer um trabalho excepcional. Claro, há muitas dificuldades e desafios, sobretudo porque o objetivo é adaptar um musical sobre uma história bastante comovente para as telas do cinema.

É possível que o fato de ser adaptado do musical e não do romance tenha afetado de maneira muito negativa a narrativa. Há muitos saltos temporais, cortes e simplificações no enredo para que seja possível encaixar toda a história nos 141 minutos do longa, por exemplo. Além disso, as cançõesocupam uma parte desse tempo e nem sempre representam um avanço na narrativa. Ficamos então com a impressão deque parte do enredo foi sacrificado para que adaptação pudesse ser feita. Há personagens importantes quesimplesmente desaparecem da trama, outros que não sãodesenvolvidos, além de acontecimentos relevantes que se desenrolam de maneira muito apressada.




Algo que também pode atrapalhar a experiência com a obra é a transição entre as cenas de violência ou discriminação e as cenas do musicalA mudança de tom ocorre às vezes de maneira tão rápida, que acaba diminuindo o peso da agressão retratada anteriormente e causando um estranhamento. Em certa cena, a personagem principal está sofrendo algum tipo de abuso e um minuto depois está cantando e dançando de forma coreografada. Pode ser que alguns não se incomodemmas a montagem prejudica um pouco a imersão na história.

Por outro lado, o elenco consegue prender nossa atenção pela atuação e performance, sobretudo durante as canções, com destaque para Fantasia Barrino (como Celie),Taraji P. Henson (como Shug Avery) e Danielle Brooks (como Sofia). A força narrativa da trama escrita por Walker e a interpretação dessas atrizes melhoram bastante a experiênciaao nos envolver na história, mesmo que percebamoseventualmente os defeitos do musical. Em meio a tantas transposições, portanto, filme pode servir como uma introdução à história original, porém é possível que decepcione quem já teve contato com o enredo por meio do livro ou do filme dirigido por Spielberg.




Por Samuel Holanda

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Priscila, linguista de formação, doutoranda em Narratologia. Começou a ler um livro do Sidney Sheldon aos oito anos e nunca mais parou. Hoje, fez das Letras sua profissão.

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